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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Aspectos Físicos, Bióticos e Antrópicos do Morro do Anhangava, Quatro Barras e Piraquara, Paraná

ASPECTOS GEOAMBIENTAIS DO MORRO DO ANHANGAVA

O Morro do Anhangava, situado nos limites do Parque Estadual da Serra da Baitaca, localizado entre os municípios de Quatro Barras e Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, pode ser considerado um verdadeiro laboratório à céu aberto para a realização de aulas de campo no âmbito das Geociências. Todos os anos, as turmas do curso de Gestão Ambiental da Faculdade Educacional Araucária e as turmas do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Energia Ativa, realizam a visita técnica ao morro sob minha orientação, onde procuramos aplicar a observação e a análise dos diversos aspectos físicos, bióticos e antrópicos que se apresentam no local. Nos anos de 2012 e 2013, contamos com a participação de meu grande amigo Anderson, professor de Educação Física do colégio e ex-militar do Exército Brasileiro, que compartilhou os seus conhecimentos sobre saúde, qualidade de vida e segurança em trilhas.  Lembrando que por uma questão de segurança, os alunos alcançam o topo através da trilha frontal e descem pela Trilha da Asa Delta.

                              Localização do Parque Estadual da Serra da Baitaca

            Prof. Anderson (Educação Física, esquerda) e Prof. Fernando (Geografia, direita)








As informações que caracterizam o Morro do Anhangava foram extraídas do Trabalho de Conclusão de Curso de Tiago Nunes, grande amigo que tive durante o curso de Geografia na Universidade Tuiuti do Paraná, entre os anos de 2002 a 2005). Uma curiosidade: a palavra anhangava significa "morada do diabo".
De acordo com Silva (1985), citado por Nunes (2005), a Serra da Baitaca está situada na borda leste do Primeiro Planalto, a sua gênese é a mesma da Serra do Mar, ou seja, está associada à separação dos continentes Africano e Sulamericano, cujo início ocorreu há mais de 200 milhões de anos. Decorrente desta dinâmica geológica, o relevo até a cota 1.000 m. s.n.m., é ondulado, e acima desta torna-se montanhoso e escarpado.
O Morro do Anhangava, ponto culminante da Serra da Baitaca, alcança 1.420 m. s.n.m., é geologicamente definido por BIGARELLA et al. (1985), como um “stock” granítico, capeado e rodeado pelas rochas migmatíticas e gnáissicas do Primeiro Planalto do Paraná.






De acordo com a classificação de Köeppen, o clima predominante na área de estudo é o Cfa, onde C significa clima quente e úmido; o mês mais frio de temperatura média compreendida entre –3º C e 18º C; f indica clima sempre úmido, sem estação seca, onde o mínimo da precipitação é superior a 60 mm por mês; e o a indica a temperatura do mês mais quente superior a 22º C. No entanto, para RODERJAN (1994), as altitudes situadas acima de 800/1.000 metros na Serra do Mar, podem ser enquadradas no clima  Cfb, que possuem médias térmicas inferiores e ocorrência de geadas no inverno, sendo b relativo à temperatura média do mês mais quente inferior a 22º C.
A presença de grandes escarpas, a proximidade do oceano e a influência dos sistemas atmosféricos, Tropical Atlântico e Polar, determinam a ocorrência de chuvas orográficas, proporcionando desta forma, grande nebulosidade, elevados índices pluviométricos e de umidade relativa do ar, que condicionam o estabelecimento de uma vegetação característica (RODERJAN e STRUMINSKI, 1992).
Nesta região, situam-se as nascentes dos rios Capivari Mirim, Ipiranga, Capitanduva e Iraí, contribuindo a oeste e ao sul para a formação da bacia do rio Iguaçu, a leste para a do litoral e ao norte para a do rio Capivari, integrantes dos sistemas de captação de água para a Região Metropolitana de Curitiba e do Litoral.
         
Muitos consideram a Serra do Mar como uma "grande muralha", entretanto, é plausível analisar que este conjunto montanhoso não é único, e sim formado por diversos conjuntos montanhosos menores separados por vales distanciados de forma significativa, com destaque para a Serra da Baitaca, Serra da Graciosa, Serra do Ibitiraquire, entre outros. Por estes vales ocorre a incursão de umidade a partir do Oceano Atlântico.
A Serra do Mar observada a partir de Curitiba apresenta uma elevação em torno de 600 m.s.n.m., no entanto, a partir do Litoral, observa-se um desnível de aproximadamente 1.000 m.s.n.m., logo constitui-se uma escarpa.


                                            Delimitação da Serra do Mar no Estado do Paraná


  Incursão de umidade entre os vales situados entre os conjuntos montanhosos

Serra do Mar observada a partir de Curitiba (Primeiro Planalto Paranaense)

Serra do Mar (Pico do Marumbi) a partir de Morretes (Litoral)

O Morro do Anhangava situa-se numa área de transição ecológica entre a Floresta Ombrófila Mista (situada na região do Primeiro Planalto, também conhecida como Floresta com Araucária) e a Floresta Ombrófila Densa (situada no Litoral, também conhecida como Mata Atlântica).
Segundo o IBGE (1992), a área do Morro do Anhangava apresenta zonas distintas de vegetação, definidas pela ação combinada dos fatores ambientais. A Floresta Ombrófila Mista Montana e a Floresta Ombrófila Densa, subdividida conforme a altitude e a latitude, em Floresta Ombrófila Densa Montana entre 1.000 e 1.200 m.s.n.m., Floresta Ombrófila Densa Altomontana entre 1.200 e 1.420 m.s.n.m. e ainda Refúgios Vegetacionais Altomontanos, representados pela vegetação rupestre, nas altitudes entre 1.250 e 1.420 m.s.n.m, como observa-se na figura abaixo.



Estratos Vegetacionais do Morro do Anhangava (NUNES, 2005)

Considerando os aspectos fisiográficos detalhados anteriormente, destaca-se o potencial do Morro do Anhangava para a realização de aulas de campo envolvendo os conhecimentos geográficos, tais como:
a) geologia, clima e geomorfologia da Serra do Mar, com destaque para a sua fragilidade potencial, vulnerável aos movimentos de massa em episódios críticos de precipitação pluviométrica como ocorreu em 2011, suas vertentes (retilíneas, convexas e côncavas), sua gênese geológica e sua dinâmica geomorfológica atual;

Apresentado as primeiras informações sobre a gênese da Serra do Mar

Parque Estadual Pico do Marumbi visto a partir do topo do Morro do Anhangava

Pico do Marumbi (foto acima e abaixo), notem ao fundo a Serra da Prata mais próximo do Litoral, arrasada em 2011 por intensos movimentos de massa


Serra dos Órgãos vista a partir do topo do Morro do Anhangava, notem o Pico Paraná no centro da fotografia

Morro Pão de Loth, visto a partir do topo do Morro do Anhangava

b) aspectos vegetacionais: Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Densa, Ecótono, vegetação rupestre e estratos vegetacionais;


Brinco-de-princesa (Fuchsia hybrida)

Zona do Ecótono (Floresta Ombrófila Mista com Floresta Ombrófila Densa)

Vegetação rupestre

Caraguatá (Bromelia pinguim)

Aspectos da vegetação próximo ao cume

Aspectos da vegetação descendo a Trilha da Asa Delta




Bromélia

Ipê anão (fotografia acima e abaixo)


c) recursos hídricos e abastecimento da Região Metropolitana de Curitiba, com destaque para a proximidade da Represa do Irai e da presença de diversos rios tributários deste sistema hídrico que ajuda no abastecimento público;

Represa do Iraí

Represa do Iraí, notem a cidade de Curitiba ao fundo

d) atividades antrópicas como as extrações de granito que ainda estão ativas na área do parque e a visitação frequente de públicos diversos ao morro que auxilia no processo de erosão e alargamento das trilhas. Destaca-se também a visitação frequente de escaladores em rocha, sendo considerado o Morro do Anhangava como “morro escola” para escaladas;

Áreas de extração de granito (acima e abaixo)


Escaladores em rocha

e) procurando mitigar o processo de degradação das trilhas, destaca-se algumas ações de recuperação de trilhas, principalmente na trilha da Asa Delta, onde existem diversos trechos onde escalonou-se a trilha na perspectiva de reduzir o efeito runnoff e a energia cinética da água.

Recuperação de parte da Trilha da Asa Delta

f) por fim, destaca-se a presença de uma fauna exuberante na região, embora não seja tão fácil observá-la devido ao grande movimento de visitantes.




REFERÊNCIAS
BIGARELLA, J.J.; LEPREVOST, A.; BOLSANELLO, A. Rochas do Brasil. Livros Técnicos e Científicos. Curitiba, 1985.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro). Sistema brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – SNLCS. Levantamentos de Reconhecimento dos Solos do Estado do Paraná. Curitiba: EMBRAPA, SNLCS/SUDESUL/IAPAR, Tomo I e II, 1984.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Série Manuais Técnicos em Geociências, n. 1. Rio de Janeiro: IBGE, 1992.
MORATO, R. G.; KAWAKUBO F.S.; LUCHIARI, A. O Geoprocessamento como subsídio ao estudo da Fragilidade Ambiental. In: X Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. 2001.
ROSS, J. L. S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.8, p. 63-74, 1994.
RODERJAN, C.V.; STRUMINSKI, E. Serra da Baitaca – caracterização e proposta de manejo. FUPEF/FBPN, Curitiba, 1992.
RODERJAN, C.V. O Gradiente da Floresta Ombrófila Densa no Morro Anhangava, Quatro Barras PR. Aspectos climáticos, pedológicos e fitossociológicos. Curitiba, 1994. Tese (Doutorado em Engenharia Floresta) – setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
SILVA, A.B. Sistemas de Informações Geo-referenciadas: Conceitos e fundamentos. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1999.
SILVA, E. et al. O impacto ambiental das pedreiras de granito da região da Serra da Baitaca (Pr). In: II Simpósio sul-brasileiro de geologia. Florianópolis, 1985.
TRICART, J. Ecodinâmica.  Rio de Janeiro: IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977.
VITTE, A. C.; SANTOS, I. Proposta metodológica para determinação de "unidades de conservação" a partir do conceito de fragilidade ambiental. Revista Paranaense de Geografia, Curitiba, n.4, p. 60-68, 1999.



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